É uma honra para mim nesse meu humilde espaço ter o privilégio de mostrar histórias de CORINTHIANISMO tão lindas e tão verdadeiras.
O CORINTHIANS é a soma de toda sua gente, de todo seu povo que entre famosos e anonimos são o coração e a alma do nosso CORINGÃO.
Porque o CORINTHIANS ultrapassa as 4 linhas do campo e é uma filosofia de vida, uma modo todo especial e diferente de ver a vida.
Assim especialmente para a Bodeguita, meu amigo e irmão Filipe Martins (do famoso anarcorinthians) me dá a honra de compartilhar com todos amigos a história linda de seu Pai.
Que honra!!!
Gracias Amico Filipe ... que o CORINTHIANS uniu ninguém com certeza separa.
VIVA O PAI GORDÃO!
VIVA TODO O POVO CORINTHIANO!
VIVA O CORINTHIANS!!!
"Pai Gordão"
Por Filipe Martins Gonçalves
Fiquei extremamente lisonjeado quando a Mônikita me pediu para que fizesse um texto sobre o meu Pai Gordão, André Luiz "Grössberg" Gonçalves. O Montanha Talvez por isso tudo, por falar de um grande mestre na arte do Corinthianismo, tenha demorado tanto tempo para escrever.
Ele era daquela geração que não deixou a Peteca cair. A conduta da Torcida Fiel, e a Mística Corinthiana, garantiu que a própria Torcida não esmorecesse. Viu, na infância, o Pequeno Polegar jogar. E na juventude teve como grande ídolo o Rosa Branca. E que sentiu na pele a repressão do presidente da época - wadih retro! Esteve ao lado de Flavio, Joca e todos os que fundaram os Gaviões da Fiel. E foi sócio benemérito da Camisa 12. Foi mais um na Invasão, mais um a entupir o estádio estadual em 77, e quando veio a Democracia, era Diretor Social. Promoveu Festas memoráveis no Clube, a luta do Maguila, o show do Roberto Carlos que entupiu o Ginásio como nunca. E com seu grande amigo Sérgio Terpins viviam ‘aprontando’ boas...
Buscava sempre as companhias de Antônio de Almeida e de Francisco Piciocchi, no Clube. Talvez por enxergar neles semelhanças com seu próprio Vô materno, um italiano que guardava o sotaque calabrês e que criou o moleque, o Seo Giacinto. E é aí que vem a chave da questão; o menino André tinha a Mãe e o Pai palestrinos, mas o Vô era Corinthiano. E quando passou a freqüentar o Parque São Jorge, precisava de "tutores", e não à toa ‘escolheu’ os melhores, Seu Tantã e Seu Toninho. Foi presenteado, é verdade.
Ao lado de meu Vô materno, o Corinthianíssimo professor de matemática, o Seu Custódio- e o Gordão teve a honra de ter este outro grande mestre como sogro, do alto de seus largos ombros de nadador e jogador de pólo aquático – foram estes dois que me ensinaram a arte do Corinthianismo.
Sobre estes largos ombros entrei pela primeira vez pelo Portão Principal do Pacaembu, e foi há tanto tempo que me lembro apenas como uma sensação gigantesca impressa na Alma. Só me lembro mesmo, e bem, da Festa na Arquibancada. E naquela parte da Alma onde guardamos as memórias, para mim era aquela a face da Democracia Corinthiana.
Pelas mãos de Zé Maria subi as escadas do vestiário para o campo, não tinha nem dois anos de idade direito. E tornei a subir, seguidas vezes, com o Doutor, com o Casão, com Ataliba, Biro, Wladimir, de forma que a memória da Festa da Fiel Torcida é um dos grandes tesouros que carrego na Alma. E o Gordão fazia questão que seus filhos – sou só o caçula... – levassem esta memória pela vida toda, para nunca esquecermos o que é CORINTHIANS.
O Doutor Sócrates já havia conseguido fazer com o Bando de Loucos pensasse para agir, e meus olhos de moleque viam acontecer a ação. A Festa da Fiel Democrática era repleta de papel picado, papel higiênico se desenrolando no ar, bandeiras, muitas e muitas bandeiras, muito samba, fogos, alegria, esperança, luta. E no meio dessa Festa lembro muito bem do Gordão me dizendo:
"Ô Alemão, presta atenção; o Coringão começa aqui, na Arquibancada".
É que o Corinthians é uma paixão, que surge por si só, espontânea, e se basta. E nos olhos do Gordão, que mostrava ao moleque caçula o seu Corinthians, "só" isso basta para ser Corinthians.
Não, isso nada tem de racional. Tem muito mais a ver com algo que me aconteceu há algum tempo. Perguntei para o meu menino João, na época com apenas um ano e dez meses; "como chama esse?", apontando o símbolo do Corinthians no Manto que eu visto todos os dias.
"Papai", ele respondeu.
É que o Corinthians é algo que agrada a Alma, e ela acolhe, ungida de uma graça que só Corinthiano(a) entende.
Mais crescido, ouvia meu Pai falar sobre o dia em que precisou deixar claro à própria Mãe que ‘aqui é Corinthians!’. Foi naquele fevereiro de 1955, o Derby do Centenário da Cidade. Corinthians Campeão, com gol de cabeça do Gigante Polegar.
A Mãe viu o moleque pular que nem louco, mais um do Bando de Loucos. E a rivalidade foi levada adiante até os últimos suspiros de ambos. A Vó esperava que o moleque se convencesse a se tornar um rivale... Mas na Alma, já preparada pelo pai da Vó, Seo Giacinto di Ruzzo, e vendo toda aquela Festa Corinthiana depois do gol de seu grande ídolo de moleque, ela queria o que? Talvez ela própria tivesse se arrependido de ter escolhido o timinho errado...
E sempre foi muito enriquecedor, para quem ama Arquibancada e mais que isso, ama o Corinthians, ver na mesa da própria casa as discussões entre Corinthianos e palestrinos.
Sim, pois a Vó Ziza não era uma simples porca, parmerista, carcamana; era Palestrina. Do tempo em que aquilo lá se chamava Palestra. Pobrezinhos, mudaram de nome, como se mudassem de fantasia...
Mas os mais velhos repreendiam esse tipo de gozação, mesmo o meu Vô Corinthianíssimo. Pois sabiam, e sempre ensinaram, as origens da malfadada hora em que o Palestra virou outra coisa. Por causa da madame do poder público corrompido, e suas ardilosidades... E então os xingamentos e provocações de ambas as partes passavam a ter outro sentido.
Até porque podemos nos odiar, mas entre Corinthians e porco existe um laço que remonta às Várzeas. Quando o porco começou, foi com jogadores Corinthianos. Com jogadores da Seleção Varzeana, para ser mais claro. De forma que até o dia em que se enfrentaram pela primeira vez, Corinthians e porco tinham até formado um combinado para derrotar o Paulistano. Neste início, eram como primos. Até que em 1917, no primeiro Derby, o porco acaba com a invencibilidade de três anos do jovem Corinthians.
Dali em diante, conhecemos a história de rivalidade. Mas este início da trajetória das duas instituições esteve marcada nessas mesas de domingo, mesmo depois de já consolidada esta maior rivalidade do mundo.
Cresci, e meu Pai não me deixava ir sozinho nos Gaviões. Ele dizia que eu precisava antes aprender o que é responsabilidade, que os Gaviões não é coisa de moleque. Me indignava com isso, mas hoje entendo perfeitamente, e vejo que mais uma vez o Pai Gordão estava mais do que certo.
Uma das raras vezes que o vi chorar foi em 1988. Sérgio Terpins havia sofrido um enfarte tão repentino quanto fulminante. Falecia no Ginásio do Clube do Povo, recepcionando os ingleses do Embaixador, o Corinthian. A imagem dele chorando, ao lado de Dentinho, que também chorava copiosamente, é daquelas imagens que estão impressas na memória. Para um moleque, como eu era na época, aquilo foi mais que marcante.
E quando o Corinthians ganhou o Brasileiro em 90, vi meu Pai Gordão chorar e sorrir ao mesmo tempo, numa memorável Festa Corinthiana na Avenida Corinthians Paulista. Naquele dia me sentia feliz pelo Corinthians, mas mais ainda pela alegria de meu Pai. Quando ele ficava feliz, irradiava luz e contagiava a todos...
O Corinthians, depois disso, entrou em crise. O Dualib chegou à Presidência e chamou meu Pai para ser Diretor de Marketing. O Gordão foi um publicitário daqueles que trabalhavam 20 horas por dia, e achava que dormir era perda de tempo.
E com muito trabalho, criou os tais cartões de crédito para os clubes. O primeiro a ser lançado foi justamente o do Corinthians, naturalmente. Traçou linhas entre o Corinthians e o Japão, levou o Corinthians para uma excursão e eu tive a felicidade de ir junto. Mas a federação, antes do terceiro jogo desta excursão, mandou o Corinthians voltar para o Brasil. Lembro muito bem da reação de meu Pai, mas é melhor não descrevê-la aqui.
Essa jogada anticorintiana fez meu pai ficar desencantado com tudo aquilo, porque depois de tanto trabalho, vinha uma canetada que jogava tudo fora. Os japoneses, por conta deste jogo que não realizamos, suspenderam os contatos futuros com o Corinthians. A federação conseguia o que queria... O Corinthians estava fincando as suas bases internacionalmente, e o poder público impedia. Daí o Gordão saiu do marketing, e foi para o Conselho Deliberativo.
Vimos os Gaviões campeões em 95. Coisa boa é para sempre...
Vimos a molecada ganhar a Copinha. O Coringão abater o rival de verde, um ano de alegria completa. E conquistamos a Copa do Brasil. Depois, ainda fomos campeões paulista e brasileiro nos anos subseqüentes, e tantas alegrias culminaram em uma grande tristeza.
Em 98, minha Vó Ziza falecia. Em 99, meu Avô materno, que pedira a mão de minha Vó materna em um Pic-nic no Parque São Jorge de antigamente, vinha a falecer também.
E o Gordão, que trabalhava as 20 horas por dia, também fumava três maços de cigarro, bebia duas garrafas de vinho no almoço e, como todo bom gordo, comia belas pratadas no almoço e na janta. Sofria de gota, já tinha sofrido de hérnia de hiato, de forma que quando aconteceu aquele ocaso trágico em 99, contra o mesmo rival de verde presente às nossas mesas de domingo, o Gordão não aguentou.
Um acidente vascular cerebral lhe deixava com uma bola de sangue do tamanho de uma laranja dentro do crânio. Desfizeram o acidente, mas ele esteve em coma por longos meses. Quando o Corinthians fez as embaixadinhas para mostrar para a porcada que o Corinthians era o verdadeiro Campeão, levei bandeira e Manto na UTI, e falei em seu ouvido. Ele em coma. “Pai, ganhamos daqueles porcos malditos”.
Em coma, o Gordão piscou os olhos. No fundo da Alma, em algum lugar de seu subconsciente, ele entendia o recado.
Era agosto de 1999. Uma multidão cercava seu caixão no velório. Centenas de amigos, a famiglia inteira, todos se reuniam no Cemitério da rua Cardeal Arcoverde para um último “adeus”.
Nunca chorei tanto em minha vida. O Seu Hermes, vice de Dualib, trouxe a bandeira branca que até hoje cobre a parede da sala de casa. Um pano branco, o Distintivo mais lindo do mundo, criação de Rebolo. Cobrimos o caixão de meu Pai, rezamos o Pai Nosso e cantamos o Hino do Corinthians. Ajoelhado, sequer entoei qualquer melodia Sacrossanta. Chorava copiosamente. Meu Mestre estava sendo enterrado, no mesmo ano em que meu Mestre também havia sido enterrado.
Havia uma gigantesca lacuna na minha Alma. Foi só então que, mesmo conhecendo tudo aquilo desde sempre, busquei refúgio na Família Corinthiana.
Associei-me aos Gaviões da Fiel. O Gordão já deveria saber que aquele Alemãozinho já era responsável o suficiente para bancar esse passo...
Hoje, quando saio de casa para pegar ônibus em direção ao Pacaembu, fecho os olhos. Imagino-me sendo carregado pelos enormes ombros de um Gordão apelidado Montanha. Vejo nitidamente seu punho cerrado socando o ar e gritando “VAI CORINTHIANS!!!”. Peço sua Companhia e me abençôo na minha imagem do Santo Padroeiro. Imagino um beijo em minha testa. E só então eu também cerro meus punhos e grito “VAI CORINTHIANS”. E saio para o jogo.
OBRIGADO, PAI GORDÃO.
Em meu Coração você não é menor nem maior que a Paixão que me ensinou a abraçar, fazendo dela o Nosso Pão de Cada Dia.
Em minha Alma, essa Paixão é você mesmo. Para mim, és o próprio Corinthians encarnado. E hoje, desencarnado em meu próprio espírito, em forma de memória e saudade.
E se São Jorge quiser, quando nos encontrarmos novamente estaremos fardados, enrolados numa bandeira, junto com o Giacinto, o Vô, o Sérgio, o Flávio, o Tantã, o Toninho, o Plácido, vendo Neco, Teleco, Servílio, Brandão, Grané, Del Debbio, Luizinho, defendendo o Corinthians numa peleja divina.
É Nossa Vida, Nossa História, com muito Amor, até o Fim dos Tempos.
VIVA O CORINTHIANS!!!"
NA BANCADA NORTE: A ENSURDECEDORA VOZ DO SILÊNCIO
-
*Por Walter Falceta*
Iniciada a disputa, ouviu-se o silêncio estrondoso do compositor e músico,
risonho amante do samba. Depois, a quietude ruidosa do rap...
Há 10 anos
2 comentários:
minha nossa, que coisa linda!
lindo msm
Postar um comentário