"A fé do ateu
24/05/2012
Não me lembro o adversário, nem o placar. Só me lembro o ano, 1990. Minha primeira vez no estádio para ver o Corinthans. Não foi ali que me tornei corinthiano. Nunca: o corinthiano nasce 7 segundos antes de sair do ventre materno e respirar pela primeira vez, aqueles 7 segundos finais de esforço feminino em que o rebento se transmuta na bola que Basílio cabeceia, Vaguinho chuta na trave, Wladimir explode em Oscar e por fim o mesmo Basílio completa, sofrido, pra dentro das redes, terminando com os 23 anos de contrações alvinegra pra fazer nascer o título mais importante da – nossa – história. Então em 1990 eu já era corinthiano; na ida à cancha pela primeira vez, me tornei fiel.
Cresci fiel, e ao mesmo tempo ateu. Si, se puede. Um materialista da bola, que tem nos estádios seu templo, na arquibancada um altar e, dentro de quatro linhas brancas, nenhum deus, nenhum herói, mas muitos mitos. Corinthiano socrático basiliano: desde 1910.
Ao entrar no Pacaembu pela zilionésima vez ontem, me lembrei do porquê. Atravessando o proibicionismo galopante do governo paulista, a elitização radiante no rosto de uma torcida cada vez mais acompanhante e menos torcedora, estava uma festa, retraída, é verdade, que me fez lembrar dos bandeirões de bambu, das milhares de bandeiras e faixas, dos fogos, das baterias que me fizeram baterista, dos 60 mil que um dia couberam num Pacaembu que diminuiu não física, mas judicialmente. De toda forma era festa, aquela mesma da Fiel, nesse dia em que toda ela resolveu ser uma só, cantar junta, tocar, sofrer e gritar junta. Houve um mosaico – depois de anos – e um grito novo, importado, hermano: Vamos, vamos Corinthians, esta noite teremos que ganhar.
Ganhar que nunca foi tarefa fácil para o Corinthians. Está lá no ideário da massa, “sofredor”, lado a lado com maloqueiro. E o time do Corinthians que disputa essa Libertadores de 2012 se esforça pra manter o estigma intacto.
Sim, porque esse time é tão ou mais ruim tecnicamente – e com bem menos recursos – que aquele de 1990, e ainda por cima sem seu mito fundador, Neto
A jogada de ataque mais vezes repetida é a Stoke “Rugby” City: lateral cobrado na área.
Nenhum batedor de bola parada excelente, nenhum driblador excelente, volantes seguros que fazem os zagueiros parecerem melhor do que são, laterais ruins que só não tomam mais bolas nas costas porque os meias marcam muito.
E um goleiro que se esforça pra virar mito: fez ontem uma das defesas mais incríveis que eu já vi no estádio, daquelas só perceptíveis pra quem tá lá mesmo ou no décimo terceiro replay, e na sequência deixou uma bola escapar por baixo das pernas, dando um susto na torcida. Metade Dida, metade Ronaldo.
Um time que me lembra os anos 90, minha infância, memórias do futebol de guerra praticado pelo Corinthians que me fez apaixonar, pensar e jogar futebol sempre pelo viés tático, estratégico, emocional muito mais do que pelo técnico.
“Coração de volante”, diriam uns.
Esse Corinthians tem coração de volante.
Só que volante de 1990 é diferente de volante de 2012. O Corinthians moderno é treinado, disciplinado e chato. Pior que o outro. E não tem Neto.
A modorra alvinegra – porque o Vasco também não foi nada demais – fez com que as chamas noventistas do Pacaembu “lotado” com 38 mil pessoas se abrandassem pouco a pouco, voltando a subir em ebulições momentâneas de acordo com o ir e vir do jogo. E foi-se todo o primeiro tempo, sem muito a dizer que já não tenha sido lido em outros relatos, Corinthians pra cá, Vasco pra lá, e a bola sem muita vontade de ultrapassar a linha fatal.
Esperava-se um segundo tempo igual e a sina dos pênaltis. Mas alguma coisa aconteceu.
Que o Vasco se retraiu, se fechou, e esperou o contra-ataque – e teve, proporcionando a Cássio mais um capítulo de heroísmo.
Que Tite se descontrolou, foi expulso, e assistiu ao jogo junto à torcida.
E que o coração de volante corinthiano se esquentou novamente e trouxe de volta as labaredas do Pacaembu quando Alex acertou um escanteio depois de aproximadamente 23.895 tentativas e Paulinho, o homem que enverga exatamente a santa camisa 8 de Basílio, Sócrates, Ezequiel e Rincón apareceu livre para testar, marcar, correr, se jogar, enloquecer e abrir uma fenda no espaço onde, dali em diante, me enfiei, agachado no meio da Fiel, sem ver o jogo, olhando incessantemente o celular de 3 chips que servira até os 42 minutos pra marcar o tempo de jogo.
Há um botão na lateral desse celular. Um botão provavelmente fabricado em Taiwan e encaixado no aparelho na China. Esse botão permite mudar a operadora antes de fazer uma ligação. Costumo deixar ele sempre na primeira operadora. Naquele momento, percebi repentinamente que ele estava na terceira. A mesma que meu pai usava.
Quando meu pai morreu, jogamos suas cinzas onde ele gostava de estar: no mar e no Pacaembu. Atrás do banco de reservas do mandante. Atrás da casamata.
Foi dali que ele assumiu o comando técnico e fez com que, pouco depois da saída do único ego maior que o coletivo do time, Emerson, e da entrada de Liédson, o homem de área que faz falta pra que as incessantes e maquinais tentativas de triangulação pelas laterais encontrem um finalizador ou, ao menos, o cara que prende um zagueiro ou um volante e dá espaço pra alguém do meio – Paulinho – chegar, o Corinthians marcou.
Paulinho não sabe, mas a primeira pessoa que se agarrou a ele quando fez o gol foi meu pai. Aquela cinza materialmente microscópica que se juntou ao cadarço de sua chuteira e me abraçou forte pelo celular de 3 chips.
Porque só o futebol, amigo, só o Corinthians pra fazer o ateu crer.
Ópio do povo? Nada.
O futebol é a fé do ateu.
Vai corinthians!
Vamos!
Kadj Oman"
Blog Impedimento.
VAI CORINTHIANS!!!
NA BANCADA NORTE: A ENSURDECEDORA VOZ DO SILÊNCIO
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*Por Walter Falceta*
Iniciada a disputa, ouviu-se o silêncio estrondoso do compositor e músico,
risonho amante do samba. Depois, a quietude ruidosa do rap...
Há 10 anos
Um comentário:
Senhor promotor Marcelo Camargo Milani:
“Improbidade administrativa” é a construção da Arena Corinthians – palco da abertura da Copa do Mundo de 2014 em São Paulo, poderoso catalisador do desenvolvimento da tradicionalmente esquecida (pelas administrações públicas) e populosa zona leste paulistana, o mais economicamente sustentável dos estádios da Copa?
Ou improbidade administrativa, transgressão do princípio da impessoalidade, malversação, burrice (ou “esquecimento”) é o que ocorre com a manutenção da construção do Monotrilho do Morumbi (a mais cara das obras da Matriz de Responsabilidades da Copa), a despeito da reprovação, velório, fechamento do caixão, sepultamento e lacração da tumba da malfadada candidatura do estádio são-paulino do Morumbi à Copa de 2014?
O senhor integrante do MPE, que deve fazer por merecer seus proventos pagos por todos nós cidadãos, tem conhecimento do que é esse Monotrilho do Morumbi?
Se, porventura, não tem total conhecimento do que se trata, vamos deixar que o mandatário máximo da agremiação à qual a bilionária obra se destina proceda ao deslinde:
”
– Hoje (terça-feira) foi homologada nossa obra de mobilidade urbana do Morumbi. De R$ 3,1 bilhões. Tenho impressão que quando falo assim vocês se espantam, estão acostumados com dirigentes arcaicos. Hoje foi homologada a concorrência e a vencedora chama-se Andrade & Gutierrez, com tecnologia da Malásia. Com Serra (governador) e Lula (ex-presidente), garimpei essa verba – explicou o mandatário.
– A consolidação do Morumbi se dá nessa obra (nos entornos). Vocês não sabem, e não vou dizer, o que lutei para que essa obra se perenezasse – completou.
”
http://www.lancenet.com.br/sao-paulo/Juvenal-consegue-bilhoes-entornos-Morumbi_0_465553620.html
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